Ruy Ferraz: ex-delegado foi executado a mando do alto escalão do PCC como vingança por atuação ao longo da carreira, diz MP
21/11/2025
(Foto: Reprodução) Morte de Ruy Ferraz Fontes aconteceu em setembro
O ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo Ruy Ferraz Fontes, executado a tiros em setembro deste ano no litoral paulista, foi morto a mando do alto escalão do Primeiro Comando da Capital como vingança por atuação ao longo da carreira, segundo denúncia do Ministério Público de São Paulo apresentada nesta sexta-feira (21).
No total, oito pessoas foram denunciadas pela participação no assassinato. (Veja lista abaixo.)
Havia uma hipótese de que a morte dele tivesse relação com a sua gestão como secretário municipal na cidade de Praia Grande, mas foi descartada pelo MP.
O documento, elaborado pelo Gaeco (grupo especial do MP que atua no combate ao crime organizado), aponta que a morte de Ruy foi encomendada pela chamada “sintonia geral” da facção.
O ex-delegado ingressou na Polícia Civil no início dos anos 1980 e atuou por mais de quatro décadas em unidades estratégicas, como Denarc, Dope e Deic. No início dos anos 2000, passou a divulgar organogramas da estrutura do PCC e liderou, em 2006, o indiciamento da cúpula da facção, incluindo Marcos Camacho, o Marcola.
A "sintonia geral" determinou a morte de Ruy Ferraz Fontes ao menos desde 2019. Um relatório policial revela uma carta manuscrita apreendida naquele ano, na qual a liderança da facção "cobra a morte de alguns agentes públicos, dentre eles o doutor Ruy Ferraz Fontes". A carta continha o seguinte trecho:
A sintonia geral vem cobrando o resultado dos trampos passados para nossos irmão da zona leste e ABC (...) contra os vermes que vem prejudicando o andamento dos trabalhos da família FM ABCD (...) Irmãos responsáveis: Koringa, Mimo, Barata, Terere, Corintiano. Missão: delegado Ruy Ferraz Fontes. Apoio dos 14
Quem são os 8 denunciados pelo MP
Os nomes abaixo foram denunciados como executores e participantes do plano e devem responder aos seguintes crimes: integrar organização criminosa armada, homicídio qualificado consumado e tentado, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito e favorecimento pessoal.
Felipe Avelino da Silva (vulgo Mascherano);
Flávio Henrique Ferreira de Souza (Beicinho ou Neno);
Luiz Antonio Rodrigues de Miranda (Gão ou Vini);
Dahesly Oliveira Pires;
Willian Silva Marques;
Paulo Henrique Caetano de Sales (13 ou PH);
Cristiano Alves da Silva (Cris Brown);
Marcos Augusto Rodrigues Cardoso (Pan, Fiel ou Penelope Charmosa).
A reportagem não conseguiu localizar a defesa deles.
Planejamento 'minucioso'
Carro suspeito de ter sido usado na execução do delegado Ruy Ferraz Fontes é encontrado em chamas em Praia Grande, SP
Reprodução e Prefeitura de Praia Grande
A denúncia aponta que o crime foi precedido por um extenso planejamento, que incluiu vigilância da rotina da vítima, montagem de uma cadeia logística com imóveis de apoio, carros de fuga e obtenção de armamentos de alto calibre.
O Ministério Público afirma que os envolvidos mapearam os deslocamentos de Ruy Ferraz e organizaram uma estrutura com múltiplos pontos de apoio em Praia Grande, Mongaguá e na capital paulista. Câmeras de segurança foram desligadas durante o período da ação criminosa para dificultar a investigação.
Para o MP, Marcos Augusto Rodrigues Cardoso ocupava posição central na articulação, atuando como recrutador e organizador do grupo. Ele é apontado como integrante do PCC e exercia a função de “disciplina” no bairro do Grajaú, Zona Sul da capital.
Motivação: vingança do PCC
A denúncia sustenta que a motivação do crime foi considerada torpe por ter origem em uma facção criminosa que buscava retaliação pelo trabalho desenvolvido por Ruy Ferraz no combate ao PCC. Segundo o MP, o crime foi uma resposta direta ao enfrentamento do delegado ao “estado paralelo imposto pelo Primeiro Comando da Capital”.
O documento também destaca que o ataque ocorreu com armamento de uso restrito, em via pública e horário movimentado, colocando outras pessoas em risco, o que agravou as acusações formuladas.
Agora, o Ministério Público afirma que ainda há diligências em andamento para identificar outros possíveis envolvidos e aguarda a análise do Judiciário para o possível recebimento da denúncia e o prosseguimento da ação penal.