Ave migrante do hemisfério norte é fotografada em área urbana em Rio Branco (AC)
21/11/2025
(Foto: Reprodução) Sanhaço-vermelho (Piranga rubra) visita região amazônica entre os meses de outubro a março
Ricardo Plácido
No começo de novembro uma ave vermelha foi fotografada em uma mata urbana do município de Rio Branco, no Acre. A espécie em questão tratava-se do sanhaço-vermelho (Piranga rubra) uma ave migratória que deixa o hemisfério norte e que pode ser avistada na região amazônica do Brasil entre os meses de outubro a meados de março.
A intensidade da coloração avermelhada do macho dessa espécie, somada ao bico e aos detalhes discretos em preto na asa, são pontos que permitem a diferenciação dessa ave migrante com uma espécie que ocorre no Brasil o sanhaço-de-fogo (Piranga flava).
Apesar de saber da possibilidade de avistar essa espécie no Brasil, na plataforma WikiAves os registros do sanhaço-vermelho se restringem a alguns municípios dos respectivos estados Amazonas, Roraima, Mato Grosso, Pará, Ceará, Rondônia e Acre.
Ave que vem do hemisfério norte passa temporada de 'férias' no Brasil
Ricardo Plácido
O flagrante desse sanhaço feito esse mês em Rio Branco surpreendeu aos observadores locais. “O registro foi feito em um lugar que eu achei inusitado, no Horto Florestal de Rio Branco, um lugar que é bastante frequentado pela população para recreação, principalmente caminhadas ao ar livre, lazer. É um local muito movimentado, e por conta disso achávamos que nunca iríamos encontrar o sanhaço-vermelho, por causa da perturbação humana”, comenta o biólogo Ricardo Plácido, que fotografou a ave migratória após a descoberta feita pelo amigo e monitor ambiental do Horto, Deivid de Menezes.
Em 2024, um indivíduo de coloração amarela, plumagem do jovem ou de uma fêmea de sanhaço-vermelho, foi registrado por uma observadora casualmente. “A gente sabia da ocorrência desse migrante no Acre e na Amazônia como um todo, inclusive ele é mais abundante em outros estados da Amazônia durante essa época do ano, mas no Acre só tínhamos registros pontuais, inclusive os primeiros na porção Oeste do estado e a observação de aves vem revelando a presença da espécie também aqui na porção Leste, onde fica a capital Rio Branco”, acrescenta Ricardo.
Mas afinal, o que essa ave vem fazer em terras brasileiras? De acordo com o biólogo essa e outras espécies acabam migrando para cá para fugir do inverno rigoroso do norte e passam uma temporada de ‘férias’ nessas localidades. Elas encontram no hemisfério Sul uma condição mais amena para sobreviver e também uma oferta alimentar em abundância.
Indivíduo de sanhaço-vermelho com plumagem amarela foi registro em 2024 por observadora
Fátima Vargas
“Esta época do ano é a que chamamos de temporada neártica, aonde diversas espécies chegaram ou estão chegando fugindo de condições climáticas mais extremas e buscam solo fértil de comida e temperaturas mais agradáveis. Aqui na América do Sul elas vem para comer e descansar”, acrescenta Plácido.
Para o biólogo e guia de observação de aves, a prática do birdwatching é uma ferramenta essencial para desvendar mistérios científicos e ampliar o conhecimento sobre as espécies sejam elas nativas ou migrantes, e isso se confirma no flagrante do sanhaço-vermelho feito no município.
“É um registro importante porque estabelece a ocorrência em todas as porções do estado do Acre referente a uma espécie. E o monitoramento dessas aves é de grande importância para se entender a dinâmica de migração que é relacionada a condições climáticas entre os hemisférios americanos. E pode nos dar pistas com informações científicas sobre mudanças climáticas e conservação da avifauna”, comenta.
Monitor do Horto Florestal de Rio Branco (AC) avistou ave migratória no bosque urbano
Deivid de Menezes
Além dessa ave, outras espécies que vem de fora podem ser observadas nessa temporada de migração amazônica. “Várias espécies de piuís, juruviaras, sanhaço- escarlate, os sabiazinhos, no Acre ocorre o sabiazinho-de-óculos, bem-te-vi-barriga-sulfúrea e também o grupo das mariquitas da América do Norte mais raras. Recentemente foi realizado pelo Diego Pedroza, o primeiro registro no WikiAves da mariquita-do-canadá no sul do Amazonas, informação preciosíssima para se entender a rota e quais espécies passam na Amazônia sul-ocidental e o processo como um todo”, finaliza.
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